Empresas esperam oportunidades para incrementar comércio exterior, apesar dos desafios

Exportações brasileiras têm queda de 1,9% em 2024, mas projeções apontam para superávit de até US$ 93 bilhões em 2025

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Mesmo diante de um cenário internacional instável, empresas brasileiras enxergam 2025 como um ano de oportunidades para ampliar a presença no mercado externo. A expectativa de novos acordos, maior integração logística e investimentos em capacitação profissional tem estimulado o setor privado a planejar a expansão para outros territórios.

As perspectivas para o comércio exterior brasileiro são otimistas, apesar dos desafios geopolíticos e econômicos. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estima que o país fechará o ano com superávit comercial de US$ 93 bilhões, um aumento de 23,7% em relação aos US$ 75,2 bilhões de 2024. 

O crescimento das exportações deve chegar a 5,7%, somando US$ 358,8 bilhões, enquanto as importações devem aumentar 28,3%, totalizando US$ 265,7 bilhões. Os dados contrastam com os resultados de 2024, quando as exportações brasileiras caíram 1,9% e a balança comercial encolheu 27,2%, refletindo a queda no preço internacional de commodities, como soja e milho. 

Apesar disso, a produção do agronegócio se manteve estável em quantidade. A indústria extrativa e de transformação apresentaram crescimento modesto, com destaque para minérios de cobre e alumínio. O bom desempenho desses setores foi impulsionado pela demanda externa aquecida e pelos preços mais estáveis desses metais no mercado internacional.

Capacitação e modernização impulsionam estratégias

A busca por eficiência e competitividade internacional levou empresas a investirem ainda mais em capacitação de equipes, especialmente em áreas estratégicas, como formação em logística internacional, conhecimento em legislação aduaneira, gestão tributária e, também, o inglês corporativo para empresas.

Outro fator importante é a modernização dos processos logísticos. O Novo Processo de Importação (NPI), através do Portal Único de Comércio Exterior, segue em implantação com a migração gradual para a Declaração Única de Importação (DUIMP). A iniciativa busca substituir o sistema LI/DI e impactará mais de 50 mil empresas, oferecendo mais agilidade, transparência e integração entre os envolvidos.

Essas mudanças ocorrem em paralelo à reforma tributária, que também deve influenciar o ambiente de negócios. A implantação do IVA dual (CBS e IBS), somado ao Imposto Seletivo (IS), afetará diretamente a importação de bens e serviços. Para mitigar possíveis impactos negativos e garantir competitividade, o governo planeja mecanismos como o Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais, o que permite às empresas maior previsibilidade tributária e adaptação gradual ao novo sistema.

Acordo Mercosul-União Europeia e cenário internacional moldam oportunidades

Em dezembro de 2024, foi anunciada a conclusão das negociações do Acordo de Associação entre Mercosul e União Europeia. O pacto ainda precisa ser ratificado pelos parlamentos dos países envolvidos, mas, quando implementado, deve formar a maior parceria de comércio e investimento do mundo, com cerca de 700 milhões de pessoas e um PIB conjunto de US$ 22 trilhões.

Para o Brasil, os impactos projetados são relevantes, conforme indicam especialistas da área. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o acordo pode gerar um aumento de 0,46% no PIB até 2040, além de estimular um crescimento de 1,49% nos investimentos e um ganho de US$ 302 milhões na balança comercial.

Apesar do otimismo, o cenário internacional impõe desafios consideráveis. A fragmentação do comércio global, intensificada por medidas protecionistas e tensões geopolíticas, dificulta a fluidez dos fluxos comerciais. A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, acompanhada de ameaças de aumento tarifário sobre produtos brasileiros, adiciona um componente extra de instabilidade para 2025.

Mesmo diante desse contexto, especialistas acreditam que a interdependência entre as economias globais continua forte o suficiente para impedir rupturas profundas no curto prazo. Barreiras comerciais, embora preocupantes, não devem romper de forma definitiva as conexões comerciais já consolidadas.

Além disso, a expectativa da Organização Mundial do Comércio (OMC) aponta para um crescimento de 3% no volume do comércio global de bens em 2025. Os serviços, por sua vez, devem seguir como destaque positivo. Impulsionados pela digitalização, cresceram 8% no primeiro trimestre de 2024, enquanto as mercadorias tiveram aumento de apenas 0,1%.

Esse movimento confirma uma tendência de longo prazo: os serviços entregues digitalmente estão ganhando protagonismo. Em 2023, representaram 54% de todas as exportações de serviços e quase 14% de todas as exportações globais de bens e serviços.