Setor projeta ultrapassar 2 milhões de unidades vendidas em 2025, impulsionado por fatores econômicos e mudanças nos hábitos de transporte
Mais de 1 milhão de motocicletas foram emplacadas no Brasil no primeiro semestre deste ano. O número representa crescimento de 10,33% em relação ao mesmo período de 2024, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A projeção indica que o setor deve comercializar 2 milhões de unidades até dezembro.
Se confirmada, será o sexto ano consecutivo de crescimento e o melhor resultado desde 2011, quando foram vendidas 1,94 milhão de motos. Em 2024, as vendas já haviam crescido 18,6%, totalizando 1,88 milhão de unidades.
A produção acompanha o ritmo: 673.125 unidades saíram das fábricas entre janeiro e abril, conforme a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). O Brasil ocupa a posição de sexto maior fabricante global de motocicletas.
A indústria gera 18,7 mil empregos diretos em Manaus e mais de 150 mil em todo o país, segundo a Abraciclo. A frota nacional ultrapassa 35 milhões de unidades, crescimento de 42% na última década, conforme dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Já o número de condutores habilitados na categoria A chegou a 40,8 milhões este ano.
Entregas por aplicativo movimentam 340 mil motoboys
A expansão dos serviços de entrega por aplicativos contribui para o aquecimento do setor. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 340 mil profissionais atuam como motoboys no país. Outro levantamento, feito pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), correlaciona o crescimento da frota a partir de 2016 com o aumento das entregas por aplicativos.
O financiamento de moto facilita o acesso de trabalhadores autônomos ao veículo. A Economic News Brasil aponta que a expansão do crédito permitiu que mais brasileiros adquirissem motocicletas e movimentou setores como comércio e serviços.
Consórcios também se tornaram canais para a aquisição. A Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio (ABAC) registrou R$ 25,82 bilhões em créditos para compra de motos no ano passado, aumento de 12,5% sobre 2023. Foram 693,62 mil consorciados contemplados no período.
Ter uma conta corrente completa pode facilitar o processo de aquisição. Além da economia com o pagamento de taxas, o que pode ajudar a poupar dinheiro para aquisição do bem, ela pode ajudar no processo de comprovação de renda para a realização do financiamento ou ser usada para o débito das parcelas do consórcio.
Demora no transporte coletivo incentiva procura por motos
Estudos da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mostram redução no número de usuários do transporte coletivo nos últimos anos. Desde 2010, brasileiros de todas as faixas de renda migram do transporte público para o individual.
A gerente de gestão da Mobilidade do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, Lorena Freitas, explica à imprensa que a qualidade do serviço, o custo, o tempo das viagens e a cobertura dos sistemas motivam a mudança. “Nesse contexto, a aquisição de motocicletas se mostra como uma opção menos custosa (em comparação aos carros) de viabilizar o acesso às atividades de trabalho, saúde, lazer e acesso à cultura.”
Pessoas que moram longe dos locais de trabalho e estudo estão entre os exemplos mais recorrentes. O deslocamento do transporte público chega a durar horas, enquanto o de moto fica na casa dos minutos. São cerca de 40 milhões de brasileiros habilitados para conduzir motocicletas e, entre eles, há um grupo em expansão: o feminino, que representa 33% das vendas de motos, segundo a Abraciclo.
Norte e Nordeste lideram alta de motociclistas
Alagoas lidera o crescimento proporcional de habilitações com alta de 86,3%. Amazonas registrou 79,7%, Bahia 62,6% e Piauí 58,7%, conforme dados do Senatran analisados pela Abraciclo. O crescimento ocorre em grandes centros e regiões menos populosas, mostrando que a motocicleta se consolidou como meio de transporte em todo o território nacional.
O mercado atrai novas marcas. A indiana Bajaj inaugurou fábrica na Zona Franca de Manaus em 2024 e projeta vender 20 mil unidades este ano.
Mercado espera crescer 5% mesmo com juros altos
A Fenabrave projeta crescimento de 5% para 2025. A demanda por serviços de entrega e a busca por transporte econômico sustentam a projeção. Mas a alta das taxas de juros e incertezas econômicas podem limitar o crescimento, analisam especialistas em Economia.
Honda lidera o mercado com 212.928 unidades emplacadas no primeiro bimestre de 2025. Yamaha vem em segundo com 46.682 motos, seguida pela Shineray com 17.733 unidades, conforme dados compilados pelo portal Guru dos Carros.
O setor busca superar o recorde de 2011. Se as projeções se confirmarem, 2025 marcará novo patamar histórico para a indústria de motocicletas no Brasil, consolidando o país entre os principais mercados globais do segmento.