Pelo 17º ano, o Instituto Baleia Jubarte e a Veracel Celulose estão realizando o ciclo de monitoramento dos botos-cinza na região do Terminal Marítimo de Belmonte (TMB). O objetivo é acompanhar a população da espécie na região costeira do porto e assegurar que as operações da companhia não impactem a vida desses animais.
O monitoramento dos botos-cinza é parte das condicionantes de operação da Veracel, que transporta sua carga de celulose do TMB na Costa do Descobrimento para o Portocel, no Espírito Santo. No longo prazo, traz resultados inéditos sobre a história de vida desses animais e sobre o modo como a espécie utiliza a área portuária do TMB e costeira de Belmonte.
“A presença constante de filhotes e o avistamento de indivíduos desde 2017 sugerem um possível crescimento populacional, bem como uma fidelidade dos botos na região. Por exemplo, o primeiro indivíduo fotografado lá é visto até hoje e, na última campanha, descobrimos que é uma fêmea”, conta Bianca Righi, bióloga e pesquisadora dos botos-cinza pelo Instituto Baleia Jubarte.
“Até o momento, nossos dados não comprovam que as atividades do porto impactam diretamente a vida desses animais, que continuam pescando, socializando-se e habitando a área do Terminal, mesmo com a presença das grandes embarcações, como a barcaça de celulose e o navio de dragagem”, avalia Bianca.
Tarciso Matos, coordenador de Meio Ambiente da Veracel, diz que “o quebra-mar do TMB é uma estrutura feita de pedras que tem tanto a função de criar uma região abrigada para permitir o carregamento seguro das barcaças com celulose quanto de criar um ecossistema marinho rico em microfauna e algas, que atraem cardumes de peixes. Esse é o motivo para os botos passarem boa parte do tempo na área do Terminal Marítimo”.
“O monitoramento faz parte do compromisso ambiental da Veracel em nossa operação em Belmonte e comprova a importância da colaboração entre empresas e organizações de conservação para proteger a vida marinha e promover a sustentabilidade e a segurança em nossos ecossistemas costeiros”, destaca ainda o coordenador.
Como funciona?
O monitoramento ocorre ao longo de dois períodos anuais: novembro e dezembro e fevereiro e março, épocas que apresentam as melhores condições climáticas para a observação dos botos. Em cada ciclo, três abordagens distintas são utilizadas para coletar dados sobre os botos-cinza:
Monitoramento de ponto fixo: equipes do Baleia Jubarte observam os botos a partir do píer do TMB por 10 dias consecutivos, registrando informações como o número de animais, a presença de filhotes, suas estratégias de pesca e comportamentos de socialização, bem como sua relação com as embarcações do terminal. Além disso, é realizada a foto-identificação dos botos pela nadadeira dorsal, que trazem marcas únicas de cada indivíduo – como uma impressão digital.
Monitoramento embarcado: durante outros 10 dias, as equipes do Instituto percorrem em barcos a área desde a foz do rio Jequitinhonha, no norte do TMB, até a foz do rio Preto, ao sul. Esta abordagem visa a entender a localização dos botos quando não estão no terminal de Belmonte.
Monitoramento acústico: A equipe do IBJ faz um acompanhamento e uma análise de dados acústicos para descrever os ruídos gerados pelos equipamentos e embarcações do terminal e os sons emitidos pelos botos-cinza para comunicação e durante suas estratégias de pesca. Foi observado que a faixa de frequência em que os botos se comunicam não se sobrepõe à faixa de frequência dos equipamentos utilizados na operação da Veracel.
Os botos-cinza
O boto-cinza (Sotalia guianensis) é uma espécie de golfinho que habita principalmente as águas costeiras e estuários da América do Sul. Conhecida por sua coloração acinzentada, seu corpo alongado e seu focinho curto, a espécie prefere águas mais rasas e pode ser encontrada nas regiões costeiras e em rios de água doce que se conectam ao oceano.
Os botos-cinza desempenham um papel importante nos ecossistemas aquáticos, ajudando a controlar as populações de peixes e contribuindo para a biodiversidade. Portanto, sua conservação é fundamental para a saúde dos ambientes costeiros e dos estuários. Sua expectativa de vida varia, mas geralmente está na faixa de 30 a 35 anos, e eles apresentam fidelidade a determinadas regiões marinhas, como no caso de Belmonte, na Bahia.
São animais sociais, que geralmente vivem em grupos com números variados de integrantes, desde apenas alguns indivíduos a dezenas deles. A dieta dos botos-cinza consiste principalmente em peixes, como anchovas, tainhas e outros pequenos peixes costeiros. Eles usam técnicas de pesca cooperativa para capturar suas presas em grupo.
A captura acidental em redes de pesca e danos ambientais, como alterações ou degradação de habitats causadas por atividades humanas, são cada vez mais comuns em regiões costeiras. Por isso, o boto-cinza foi classificado como “vulnerável” pelo ICMBio e está citado na Lista de Espécies Ameaçadas da Fauna.