Por Débora do Carmo
O primeiro museu dedicado à Arraial D’Ajuda, distrito de Porto Seguro, deve abrir suas portas somente no próximo ano, mas tem como maior legado a história de fé e devoção de 472 anos de romaria ao primeiro Santuário Mariano do Brasil e um dos mais importantes sobre a história jesuítica da América Latina e o primeiro milagre em terras brasileiras. E não só isso. Terá também espaço dedicado ao Campo de Aviação instalado no coração do Distrito, a influência da Lambada, a contracultura da década de 70, no auge da Ditadura Militar e o desenvolvimento como polo turístico do Vilarejo.
Segundo Vinícius Parracho, idealizador do Projeto, a proposta é criar um museu em Arraial d’Ajuda para poder contar reunir as informações históricas e culturais importantes do Distrito.
“Hoje não temos um local que reúna estas informações. Mesmo os museus de Porto Seguro, pouco ou nada se tem sobre Arraial, já que a maioria está focado na questão do Descobrimento do Brasil. Arraial é pós descobrimento e teve início em 1549 com a chegada dos jesuítas – fato relevante, já que por aqui passaram os mais importantes. Outros pontos relevantes que serão retratados neste museu são as romarias, os milagres, a água da Santa, o campo de aviação, a participação do Distrito em relação à Segunda Guerra Mundial, entre outros fatos que compõem a história de do vilarejo e que fazem a diferença tanto para o Brasil, quanto para o Mundo”, revelou.
Entre as peças do acervo, fotografias históricas, imagens de santos e os mantos sagrados de N. Sra. d’Ajuda (Fotos: Antonio Kehl/ Iphan)
REGISTROS
Parracho explica que ao pesquisar sobre Arraial d’Ajuda para escrever o livro sobre o campo de aviação, perceberam que existia poucos registros históricos. “Pensando nisso, entendemos que é fundamental preservar essa história. Conversamos com o superintendente de Cultura e com a igreja e estamos em construção de um termo de cooperação para iniciar o Museu”, relatou.
Para manter o museu, os investimentos nesse primeiro momento virão da iniciativa pública. A Prefeitura está organizando a documentação e o prédio será cedido pela Igreja, que já possui imóveis próprios no seu entorno, que ainda estão sendo avaliados. “Estamos na primeira parte do projeto, a burocrática, e precisamos cumprir uma série de requisitos como registrar o museu no Cadastro Nacional de Museus, pedir autorização do Iphan para as peças, mudar o Livro de Tombo e organizar toda a estrutura de segurança para garantir a proteção a essas obras”, explicou.
Com a abertura do Museu, muitas das histórias de Arraial d’Ajuda poderão ser contadas com o carinho que merecem (Foto: Reprodução)
ACERVO
Já em relação às peças que estarão no acervo do Museu, Parracho informa que a Igreja é a guardiã de muitas delas, como imagens de santos, os mantos de Nossa Senhora – que tradicionalmente são customizados anualmente para a festa da Padroeira -, quadros que eram oferecidos pelos fiéis, quando alcançavam a cura de seus males – inclusive alguns datados do século XVIII , fotografias e objetos. O Museu também deve receber um material interativo para simular a Arraial d’Ajuda de 1939, data da inauguração do campo de aviação e visitação online. A intenção desse Museu não é apenas se tornar um local de visitação turística, mas sim que seja efetivamente algo voltado para contar a história do distrito, dos seus moradores e beneficiar as escolas, os projetos sociais e dar à população sua real importância, linkando informação e cultura e disseminando o pertencimento à população, de acordo com Parracho.
“E para manter o museu, a pretensão é que esta verba possa vir de iniciativas privadas, com o Programa Amigo do Museu, onde hotéis e pousadas, realizarão uma contribuição mensal, e em contrapartida, poderão trazer seus hóspedes, gratuitamente, para a visitação e da cobrança de ingressos de outros visitantes”, finalizou.